Samstag, 1. November 2014

Poesia que dediquei à melhor mae do mundo

A MINHA MÃE

À pessoa que me deu a vida,
ensinou-me a falar, caminhar, rezar
ficou ao meu lado
em tempos de tempestade
orou por mim
em momentos de dificuldade
seguiu meus passos, riu meus risos
chorou meus prantos
sentiu na pele a dor da separação
rogou a Jesus pela minha proteção
nunca me deixou desamparada
foi sempre o anjo da minha estrada
à minha querida e amada MAE
o meu mais profundo agradecimento
por tudo o que aprendi a ser
pelo amor que nunca deixei de ter
por sempre estar ao meu lado
nas alegrias e nas tristezas
nas certezas e incertezas
obrigada por ser essa mãe maravilhosa
que Deus me deu como uma estrela
a mais bela, mais pura, a mais singela.
Mamãe, quero através desse poema
Deixar-lhe registrado o meu amor
Infinito como o céu
Puro como a flor
Eterno como o Senhor!


Rosangela Scheithauer



Exposicao de arte "MAE E FILHO"

A quem possa interessar:

Às vezes, do nada me vem uma vontade incontrolável de pintar meus sentimentos. Sei que muitos dirão: "mas como se faz para pintar um sentimento?".
Eu não sei responder com palavras - mas sei responder com o pincel.
(Rosangela Scheithauer)

Exposicão de arteMãe e filho” da artista plástica Rosangela Scheithauer

De 18 a 28 de Novembro de 2014 no Centro Municipal de Aperfeiçoamento do Magistério "Antonio de Souza Franco"– Mogi Mirim/SP

Horário de visita:  8h00 às 22h00 (2ª a 6ª feira)


Os maiores agradecimentos à Prefeitura de Mogi Mirim, à Secretaria da Educacão, ao Sr. Prefeito Luiz Gustavo Antunes Stupp e à Secretária de Educacão 





Márcia Rottoli de Oliveira Masotti pelo apoio.

Mittwoch, 3. September 2014

Poesia: FELICIDADE

Felicidade
(Rosangela Scheithauer)


Fiquei um bom tempo assim ,
olhando o céu pela janela
na área de serviço
enquando te aguardava do banho ,
sentindo o perfume do sabonete
saindo com o vapor pela porta
Agora retorno à sala ,
te vejo me esperar no sofá .
Beijo teus cabelos ainda molhados ,
escondendo ver o que acho em teus olhos.
Teu abraco é a certeza

de que a felicidade existe.  


Dienstag, 2. September 2014

Poesia: O amor que peco

O amor que peço


(Rosangela Scheithauer)

 

 

 


Já lhe pedi antes
Mas peço outra vez
A palava que aromou
Sua boca de veludo
A festa de amor
Que ainda não tivemos
E os soluços desenfreados
Em frente à janela jogados
Não peço o amor
Dos marinheiros
Que amam e partem
Com um beijo no portão
Deixam uma promessa
E se vão em pressa
Em cada porto uma mulher
Peço somente o amor
Que se reparte
Em beijos, leito e pão
Amor que pode ser eterno
Que não pede perdão
Que requer libertar-se
Amor profundo
sem fronteiras
Ou barreiras
Sem idade ou vaidade
Amor de verdade 

Dienstag, 5. August 2014

Poesia: VAZIO

Vazio


Meu amor, 
se em algum lugar me ouvires 
e meus carinhos sentires 
se em um momento duvidares 
do meu amor e pensares 
que eu de minha vida te tirei 
e que de minha mente te eliminei 
entao nao sabes das noites mal dormidas 
nao sabes das tantas lágrimas caídas 
nao sentes mais o carinho e a emocao 
nao acreditas em meu pobre coracao. 

Este coracao esmigalhado, partido, quebrado 
E sofrido com a lembranca do passado 
Meu amor, onde estiveres ouca o meu grito 
que se perde no tempo e no infinito 
que se alonga feito uma fumaca 
e cruza o horizonte na esperanca 
de deixar-te a prova mais sincera 
do amor que por todo me apodera 
amor puro, infinito como o céu 
Tu, amado, o único que o conheceu.



Poesia: VOLTANDO

Voltando


No meu canto
tão distante
de passagem
desgastante
sinto falta
de um abraço
em voz alta
passo a passo
grito forte
e sem receio
peço tempo
nesse meio
volto em breve
trago esperança
coração leve
como criança
Chegando me abraçe
volto ao seu colo
que nunca deixei
foi só tempestade
que agora assoprei
o vento é de festa
rompe a corrente
da face modesta
que volta mansinho
na paz do seu ninho



Dienstag, 29. Juli 2014

Lembrancas da antiga SANTA CRUZ

Há uns tempos atrás conversei por muito tempo com a querida amiga de infãncia e juventude, Carmen Bernardi Freitas - filha da D. Geni e do Seu Dario Bernardi, eu sempre a chamei de Carminha. Ela me ajudou a relembrar pessoas e fatos da Santa Cruz daqueles tempos passados, da nossa infância. Começamos a falar do Cido, um vizinho dela, de quem gostávamos muito e íamos sempre a sua casa. Fiquei sabendo que ele faleceu: parece que infartou ou algo assim.

Lembrei-me que nós íamos sempre fazer a tarefa na casa da Fátima Davoli (filha da D. Eunice e do Seu Irineu Zuliani). Eles tinham um armazém antigo, ali na Rua Santa Cruz. Aliás, fazendo um parêntesis aqui, até os dias de hoje - mesmo após todos esses anos que estou fora do Brasil – visito a D. Eunice Davoli e ela me faz aquela comidinha caseira deliciosa que só ela sabe fazer. Antigamente quem cozinhava era a Denise a quem chamávamos de Dê, mas, infelizmente, fiquei sabendo que há pouco tempo atrás ela faleceu. Que Deus a tenha!
Voltando a falar dos tempos do armazém:  ah! como era bom ir lá. Eu sempre ganhava um doce do Seu Irineu, que me chamava de Rosa! Tinha um “cara” que trabalhava com ele de quem eu gostava muito, não consigo me lembrar de se nome:  será que era Vando ou era Tião? A Fátima vai me ajudar nisso. Aquele armazém era tudo de bom! Lembro-me como se fosse hoje, daqueles doces, dos sacos de farinha, feijão, arroz, latões de óleo, leite e, ao lado, havia a lojinha, onde a D.Eunice vendia tecidos por metro… “ahhh”! e foi lá que comprei minhas primeiras alpargatas, de sola de corda - daquelas que se fechavam com um tipo de bolinha de plástico. Lembro que eram azul- marinho ou marrom e, mais tarde ,apareceram aquelas com umas tiarinhas com florzinhas, tipo margaridas, que a gente ficava trocando o tempo todo.

Lembrei-me do bar do Seu Alfredo, que ficava ali naquela esquina, onde hoje tem uma farmácia na praça Santa Cruz. Ele tinha duas netas que eram conhecidíssimas na Santa Cruz porque eram…. Hhhhmmm… digamos assim:  bem levadas. Uma delas – a mais levada – era conhecida como Tereza Bizorrão e a outra era a Cidinha. Elas eram sobrinhas do Seu Alfredo.

Lembrei-me do Bitchura - um que trabalhava com o Garros - que também me contaram  que morreu de tanto beber. Ele chamava o Seu Pedro Simoso de Pedro Timoso.
“Eeeeeeita” povo bom pra beber aquele! E era pinga pura mesmo, nada de cerveja ou vinho… era da „mardita“ mesmo que eles gostavam!
Comentei com a Carminha sobre aquelas nossas idas à igreja na época de Natal, para ouvir estórinhas natalinas e fazer a „preparação para o Natal“. Rezávamos e cantávamos, os meninos se sentavam numa fila de bancos, as meninas noutra fila. No final as nossas cartelinhas eram carimbadas no dia respectivo e isso acontecia do dia 1° ao dia 24 de dezembro. Quem enchesse a cartelinha, ganhava um presentinho do Padre Paiva no dia 25. Os meninos ganhavam aquelas coisas típicas de moleques: (carrinhos plásticos, bola, etc) e as meninas ganhavam coisas de menina (bonecas, pecinhas imitando utensílios de cozinha,etc.).  Era uma festa receber os presentes! Aaah! e quando algum amigo ou amiga não podia ir, nós carimbávamos a cartelinha deles. Lembro-me muito bem que a igreja ficava lotada de crianças ! Houve uma vez em que o Valério, um que trabalhava com o Padre, se vestiu de Papai Noel e ficou ali na porta perguntando o que nós havíamos ganhado de presente. Era uma alegria poder falar com o Papai Noel em pessoa!!!!!!!!!

Carminha me ajudou a lembrar do delicioso pastel da D. Elídia, Maria Emilia do Note. Alguém se lembra disso? Era o melhor pastel da Santa Cruz.
Lembrei-me da „Derfina“, da D. Ana pamonheira: acho que o sobrenome dela era Quaglio.
Na Santa Cruz inteira não tinha quem nao conhecesse a D. Sunta Manera, a benzedeira.  Até bem mais tarde,  quando eu já morava no exterior, quando tinha algum problema com filhos,  pedia pra minha mãe ir lá na D. Sunta, pedir-lhe pra benzer. Ela pedia que minha mãe levasse qualquer peça de roupa da pessoa que deveria ser benzida e, daí, fazia uma porção de orações das quais ninguém entendia nada e, com o terço na mão ela benzia! Era uma santa benzedeira, a D. Sunta!  (o nome dela devia ser Assunta, mas todo mundo a conhecia como D.Sunta).

Me lembrei da Creusa do Dilino, da D. Alzira, da Dona Ana Garros costureira… fez muita roupa para mim e para meus irmãos. Antigamente, antes de morar ali na Praça, ela morava ao lado da nossa casa, na Rua Biquinha do Conselho (eu detestava esse nome).  Certa vez, pulei o muro pra ir brincar com sua sobrinha e caí em cima de uma lata de sardinha aberta!  Tive que ser levada direto para o médico - na época era o Dr. Marcelo, que tinha consultório ali em frente do bar Mirim. Levei 3 pontos na sola do pé que me foram dados SEM anestesia! Acho que doeu mais do que a dor do parto  (agora já posso comparar, pois tive 2 filhos de parto normal!).

Lembrei-me do Seu Nório Bonati, marido da D.Elídia, que casal maravilhoso, que bondade, que doçura!
Lembrei-me da lojinha da D.Antonieta, que morava na esquina da rua Biquinha do Conselho.  A lojinha era ali dentro de sua casa mesmo.
Saudade da D. Natália Duvigo e do seu Bepim, mãe da Cema, cabeleireira. Eu adorava ir lá e vê-la cozinhando em seu fogão a lenha e pitando um cigarro de palha. Achava o máximo. Ela me adorava e sempre me recebia com tanto carinho. Me perguntava: Qué um café, fia?

Lembrei-me de uma pessoa que todo mundo na Santa Cruz conhecia: o Zé, um cara extremamente pobre, que vivia andando pelo bairro com uma lata de doce de goiaba na mão, pedindo esmola ou um prato de comida. Coitado! Vivia bêbado e usava um chapéu o tempo todo. Também morreu de tanto beber, coitado!

Lembrei-me da Dorva que trabalhava na casa da D. Dalva Dante, coitadinha, era excepcional e vivia perguntando pra gente: „ ocê já tasô“ (casou)?  E tinha também a Lena da Zéfina -- essa também era conhecida na paróquia Santa Cruz e ainda é, até hoje. Na última vez que fui à missa na igreja ela estava ali sentadinha no banco da frente. É assídua frequentadora das missas. Tadinha!  Não deve ter tido uma infância feliz, os pais dela ( Zéfina e Furmiga) bebiam e batiam muito nos filhos. Lembro-me de que, muitas vezes, a D. Vilma Davoli e o Seu Dario Bernardi brigavam com a Zéfina por causa dos maltratos às crianças, era uma judiação.

Lembrei-me do coral São Gregório Magno, regido pelo Prof. Geraldo Pinheiro e a grande pianista, Célia de Simoni, (ambos já falecidos). Era um grande coral, minha mãe era a Soprano, meu pai José Enéas e um dos Bridis era tenor.
Mais tarde formou-se um outro coral na igreja, regido pela D. Irene Naressi.
Lembrei-me da Mafa (Mafalda), que por muitos anos trabalhou em nossa casa e foi nossa babá . Gosto muito dela e quase todas as vezes que vou ao Brasil, não deixo de dar uma passada lá na sua casa.
Essa crônica é dedicada a todos os
Poletinis, Zulianis e Julianis, Fáveros, Bizigattos, Mantovanis, Albanos, Pichatellis, Christofolettis, Guarnieris, Diogos, Bernardis, Tarossis, Dovigos, Mazons, Bonattis, Simosos, Maneras, Buenos, Naressis, Bridis, Rossis, De Pieris, Cunha Claros, Camargos, Vomeros, Francatos, Finazzis, Longatos, Buscariolis, Pissinatis, Rossis, Borins, Coppos, Leonellos, Biazottos, Milanos, Marangonis, Vedovellos, Davolis, Mestrinels e Mestriners, Bordignons, Morenos, Malvezis, Celegattis, Vischis, Bataglias, Zorzettos, Abbiatis, Schincariols, Manaras, Scomparins e, tantas outras familias, que fizeram a história do Bairro Santa Cruz!














Pois é, minha gente, a Santa Cruz marcou muito a minha infância Foi lá que nasci, frequentei a escola primária, brinquei naquelas ruas atrás da igreja, andei de bicicleta por todas as travessas até lá em cima, perto do antigo "Campo da Aviação", comprei muitos docinhos nas "vendas" da D. Fortunata Albano e no "Armazém" da Dona Eunice Davoli Zuliani e muitas balas e chicletes no Bar do Baiano. Acompanhei muitas procissões do Monsenhor Paiva (até hoje eu ainda o chamo de Padre Paiva - parece que ficou impregnado em minha memória - mas ele sabe que não o faço por mal - e sempre carregando uma vela na mão. Lembro-me daqueles senhores das romarias, todos com batinas. Eu sempre perguntava ao meu pai por que eles usam "saias" !!?  E as senhoras de véu na cabeça - branco se fossem solteiras e preto se fossem casadas. Naquele tempo era uma forma dos moços identificarem as moças que ainda não haviam se casado.

Lembro-me de que nos tais armazéns, comprava-se tudo fresquinho: leite, ovos, carne etc. Lembro-me dos frangos "pelados" (assim nós crianças os chamávamos) à venda, pendurados pelos pés e lembro-me que podíamos comprar tudo a fiado e pagar no final do mês. Todo mundo se conhecia e todo mundo tinha confiança no outro! Não havia essa de não pagar. Terminado o mês, todo mundo ia "acertar as contas".

Lembro-me do dia em que vi o primeiro telefone, daqueles de gancho, lá no Armazém da Dona Eunice. Até hoje me lembro do meu fascínio por aquela "modernidade". Acho que consigo até me lembrar que o número do telefone era 24!  Não devia ter muito mais do que isso na cidade inteira!!
Acúcar, café e arroz eram vendidos por quilo e eram embrulhados em papel em forma de um cone. Carne era embrulhada em papel de jornal. Eu adorava os doces: pirulitos Zorro, paçoquinha, doce de leite, doce de batata-doce, doce de abóbora, barquinha (era um doce feito de folhas que parecem hóstias e recheado com uma geléia de alguma coisa indefinível), cocadas brancas e de coco queimado, balas chitas, dadinhos....
Gostava de ir brincar lá no "parquinho do Padre Paiva" que ficava ali na praca Santa Cruz. Quantas vezes me balancei naquelas balanças e brinquei nas gangorras!
Eu ia a pé da minha casa para o Colégio Estadual Monsenhor Nora, atravessava toda a Santa Cruz,  indo lá por cima, perto do Fórum e depois descia a rua 13 (corrijam-me se eu estiver errada) até chegar ali na esquina da rua onde antigamente tinha a escola de datilografia da D. Cecilia Parra para, depois chegar até ao “Monsenhor Nora”. Quem não se lembra da escola da D. Cecilia?? Acho que todos nós aprendemos a datilografar lá. Até hoje ainda não consigo usar o termo "digitar" e, muitas vezes já aconteceu, de pedir pra minha filha sair do computador pois eu precisava "datilografar" um e-mail urgente! Ela me olhava com cara de espanto.... " datiiiiiiii o quê Mami????" Fazer o quê, né?, não posso negar que sou da geração passada!

Mas, voltando ao assunto de ir a pé para os tempos do ginásio!  Fizesse sol ou chuva , mãe nenhuma se preocupava antigamente. Era tudo tranquilo e sem estresse, não tínhamos celulares, nem I-Pods, nada disso. Nao tínhamos dinheiro, pois, naquele tempo, os pais não davam as mesadas que as crianças de hoje em dia recebem. Tínhamos uns meros trocadinhos apenas para comprar  umas balas ou chiclete na venda. E olha lá!
Brincávamos na rua até a noite: brincadeiras de roda, pega-pega, esconde-esconde, amarelinha, casinha! Que delícia brincar de casinha, fazendo "comidinhas" de barro e decorando a "casa" com latas e tijolos. Lembro-me dos "telefones" que fazíamos utilizando duas latas, das quais furávamos  no fundo, passávamos um cordão preso por um palito e conversávamos por longo tempo com a amiga/amigo.
Íamos muito aos sítios nos domingos.  Lá, então, era a maior farra. Quanto brincar por aquelas bananeiras e goiabeiras. Uma vez subi numa goiabeira e não percebi que estava "empesteada" de taturana... Me queimei pelos bracos e pernas¸ foi um horror, mas, mesmo assim, não parei de subir nas goiabeiras.
Pois é, minha gente, acho que muitos de vocês que cresceram na Santa Cruz com certeza irão se identificar e relembrar essas coisas tão simples, mas tão marcantes da infância.

Deus foi generoso comigo e me deu todos esses prazeres. Muito do que sou e que aprendi devo a essa infância maravilhosa que Deus me proporcionou.


E usando as próprias palavras do "Seu Pedro Simoso".... "vórta sempre pra vê nóis aqui" dizia ele, todas as vezes que eu os visitava.

Volto, sempre, sim senhor! E COM MUITO PRAZER!

                                                    





„Tempo bão, num vórta mais, saudade“!

„Tempo bão, num vórta mais, saudade“!

Se eu tivesse que numerar as coisas que mais marcaram a minha infância, acho que seria assim:

- Brincadeiras na rua (amarelinha, esconde-esconde,         pula-corda, passa-anel);
 - Andar descalço quase o dia inteiro;

- Tomar banho de mangueira ou dentro do tanque de lavar roupa;
- Comprar doce na venda;
- Ir a pé para a escola;
- Ir à igreja aos domingos;
- Assistir a filmes em preto e branco na televisão;
- Ter muitos amigos para brincar;
- Chupar manga,  até me lambuzar toda;
- Respeitar pai e mãe, acima de tudo!
- Ter tido uma infância „de verdade“ !



Naqueles tempos não havia cintos de segurança, apoio de cabeça e muito menos „air bag“!
Íamos soltos no banco de trás, fazendo aquela farra. Brigávamos para disputar quem iria se sentar ao lado da janelinha: ninguém gostava de sentar no meio.
O quarto tinha que ser dividido com os irmãos, não havia essa de cada um ter seu quarto e os brinquedos eram multicolores com pecinhas que se soltavam mínimamente e eram pintadas com tintas bem duvidosas que continham chumbo ou outro veneno qualquer.  Mesmo assim ninguém morreu!
Não havia travas de segurança nas portas dos carros, chaves nos armários de medicamentos, detergentes ou produtos químicos domésticos.
Andávamos de bicicleta sem capacetes, joelheiras, caneleiras ou cotoveleiras. Claro que,  quando caíamos,  nos esfolávamos por todo lado. Mas ninguem morreu!
Bebíamos água de filtro da talha de barro, da torneira ou direto da biquinha. Não havia nada „esterilizado“. Penso que ninguém conhecia esse termo naquele tempo.
Os meninos construiam aqueles famosos carrinhos de rolimã e, os que tinham sorte de morar perto de uma ladeira asfaltada,  podiam tentar bater recordes de velocidade e até verificar, no meio do caminho, quem tinha economizado a sola dos sapatos, que serviam como freios.  Porém, muitos brincavam descalços, então já dá para imaginar o estado dos pés, dedões e joelhos esfolados!
Podíamos brincar na rua com uma única condição imposta por nossas mães:
·        Antes de anoitecer, tínhamos que voltar para casa. Nossos pais não tinham a mínima idéia de onde estávamos!
·        Na maioria das vezes, tínhamos aula no período da manhã e íamos almoçar em casa.
·        Fazíamos todo o trajeto de casa até a escola a pé - nada de Papai ou Mamãe nos levar para a escola!
·        Quando alguém tinha piolho na cabeca as mães colocavam Neocid em pó!  Era tiro e queda!
·        Ninguém se queixava de braço no gesso, dentes partidos, joelhos ralados, cabeça lascada.
·        Ninguém usava aparelho nos dentes. Isso só começou a virar moda nos anos 70.
Comíamos doce à vontade. No café da manhã, comíamos apenas pão com manteiga. As bebidas eram todas com açúcar. Não se falava em obesidade, brincávamos sempre na rua e éramos muito ativos. Acho que nos ajudava a queimar as calorias.
Dividíamos com nossos amigos uma Tubaína, comprada na vendinha mais próxima.
Os animais de estimação daquela época não tinham ração, que nada, comiam a mesma comida da casa, muitas vezes comiam os restos. Banhos quentes? Xampu? Nada disso! No quintal um segurava o cão e o outro, com a mangueira, ia esguichando água e lavando com sabão de cebo, feito em casa.
Ninguém lavava os pratos com detergentes. Era tudo lavado com sabão.
A pé ou de bicicleta, íamos à casa dos nossos amigos, mesmo que morassem a km de distância de nossa casa, entrávamos sem bater e íamos brincar. Todo mundo se conhecia, não havia medos e desconfianças.

Os meninos jogavam futebol no meio da rua e sinalizavam a trave, utilizando duas pedras. Jogavam taco também e utilizavam pedaços de pau como traves.

Na escola havia bons e maus alunos. Uns passavam e outros eram reprovados e, nem por isso, iam a psicólogos ou psicoterapeutas. Quem fosse reprovado, simplesmente repetia o ano e tentava de novo no ano seguinte. As notas eram de 0 a 100, na escola primária e,  só mais tarde,  passou a ser de 0 a 10 no ginásio. Havia até nota ao meio, por exemplo 2,5 ; 5,5 ou 9,5.  Hoje: A,B,C,D,E...
As festas eram animadas por vitrolas com agulhas deslizando sobre os discos de venil. De vez em quando, improvisávamos uma luz negra, uzilizando um papel celofane azul ou roxo que colocávamos em volta da lâmpada.

Nossos „coquetéis“ eram feitos à base de groselha, maçã cortada em cubinhos e gelo.
Tínhamos liberdades, fracassos, sucessos, deveres e obrigações.

Ajudávamos nossas mães nos serviços de casa, por exemplo, minha irmã e eu combinávamos quem iria lavar e quem iria secar a louca do almoço e jantar.
Foi nessa época que muita coisa comecou a mudar na moda, na pintura, no cinema, na música, na forma de encarar a sexualidade, no relacionamento humano, nas questões de diversidade racial e em muitos outros territórios. Muitos jovens passaram a contestar a sociedade e começaram a dar mais ê
ênfase aos valores tradicionais. Surgiram os hippies e a era do „peaceand love“. O símbolo eram dois dedos em forma de V.


Vou parando por aqui, pois já está na hora de dormir.  A vontade era de ficar aqui escrevendo, escrevendo sem parar, mas nao se preocupem, pois haverá muitos outros "causos" pra compartilhar com voces. 


Show ao vivo do Pink Floyd

... e lá estava eu quietinha no meu canto quando de repente um primo postou um vídeo do David Gilmour tocando "Wish you were here"...   E nao deu outra:  voltaram em minha mente todos os momentos vividos naquela noite de 14 de Maio de 2011  no  02 Arena de Londres.  Saí de Viena para Londres só para ir assistir esse show.   Gente, se eu estive grávida eu teria tido um filho naquela inesquecível noite.  O 02 Arena é um monstro -  MONSTRO meeeeesmo -  de lugar,  nem sei quantas mil pessoas cabem lá dentro,  acho que umas 40 0u 50 mil,  e aquilo lá estava lotado até o último lugar.   Dá pra voces terem uma idéia da emocao que eu viví??   Cantei junto com eles do comeco ao fim  as músicas que eu ouví durante toda a minha juventude.  Transportei-me para aqueles anos 70 e eu jovem e com uma bagagem de sonhos  nunca imaginando  que um dia eu estaria alí vendo-os face a face.  Quando comecaram a tocar Comfortably Numb eu juro que precisei me apoiar no meu vizinho, que também nao estava melhor que eu,  os olhos cheios de lágrimas, chorando como aquela guitarra tocada pelo David Gilmour lá em cima do MURO.   Meu Deus, quanta emocao...  foi aí que eu ví que estou ficando fraca para essas fortes sensacoes.   Se valeu a pena???   Siiiiiiiiiiiiim, todos os segundos, minutos e horas que passei lá assistindo aquele show.  Uma experiencia ÚNICA.   Eu me beliscava todo o tempo para ter certeza que estava ali mesmo....

https://www.youtube.com/watch?v=hUYzQaCCt2o  



Poesia: Coraçao Eremita

Coraçao Eremita
Rosangela Scheithauer

Deste país em branco
Sem ondas cristalinas
Ou sóis avermelhados
Na distância dos montes
Pinheiros prateados
Choram lágrimas frias
Pedem flores esquecidas
E perfumes de verão
A noite longa sempre em luto
Soluça em manto de veludo
Implora por um raio de luz
Que marque o fim da solidão
Traga a estrela cadente sonhada
E ilumine o coração de um eremita 


                                                               

Poesia: APELO

Apelo

(Rosângela Scheithauer)



Uma coisa quero dizer
Os homens já não contemplam
A beleza do rio
O canto dos pássaros
A cor das flores
O verde da mata
Uma coisa quero dizer
Digo agora
Para que estas palavras
Fiquem seladas
Nas mentes de flagelos
Moribundos e patéticos
Que se imaginam filósofos
E mal sabem soletrar
O próprio nome
Quero dizer e digo já
Com desolada luz
Pobreza de espírito
Fraqueza de caráter
Riqueza personalizada
Nada se contempla
Pois o rio seca
A flor morre
O canto vira gemido
O sorriso fica perdido
O verde é negro
Em terras estéreis
Mãos se fecham
Corações ao abandono
Morrem sem conhecer
O sentido da esperança





Poesia: A todos os poetas apaixonados

A Todos Os Poetas Apaixonados
Rosângela Scheithauer

A todos os que sofrem calados
Que choram apaixonados
Que gritam ao mundo
Um sentimento profundo
Que rolam na cama
Pisam na lama
Rompem barreiras
Sacodem peneiras
Pedem o auxílio de Deus
Que ouça os pedidos seus
De poderem só um minuto
Fazer do oceano um viaduto
Atravessar águas e obstáculos
Arrebentar todos os tentáculos
Fazer um pacto de ir até o fim
Seja ele bom ou ruim
A esses poetas sofridos
Sentindo-se isolados e perdidos
Desejo que encontrem a resposta
Que não se entreguem à derrota
Que simplesmente continuem amando
Que continuem gritando
Pra que todo o mundo sinta a cor
Da dor do verdadeiro amor!!



Algumas de minhas recentes pinturas

Aqui estao algumas das minhas mais recentes PRODUCOES artísticas.  Espero que gostem













Samstag, 26. Juli 2014

Aqui comecarei a postar coisinhas que gosto de escrever, algumas de minhas pinturas, pensamentos, idéias, sugestoes, enfim, tudo o que meu coracao mandar.

Aqui vou colocar algumas das cronicas que escrevi no passado - talvez a mais expressiva de todas é esta "Coisas simples que me faltam", pois é a que mais demonstra tudo o que sinto após tantos anos vivendo no exterior  ( já sao mais de 36 anos!!!  é tempo pra dedéu).
Entre uma cronica e outra postarei também algumas de minhas pinturas  -  desde as mais aintigas até as mais recentes.  Espero que gostem.




COISAS SIMPLES QUE ME FALTAM
(Rosângela Scheithauer)


                   
Numa manhã chuvosa e melancólica me bateu uma saudade louca e um forte desejo de escrever, de botar os sentimentos numa folha de papel, uma necessidade de deixar o mundo todo saber como as coisas simples da vida fazem falta. Neste mundo em que vivemos, o avanço da tecnologia está fazendo com que desapareça o marco essencial do ser humano que é a sensibilidade. No momento, o único objetivo torna-se material e talvez essa idéia de posse seja, na realidade, o medo do amanha, do desconhecido. Quando deixei o Brasil há mais de 34 anos, sentia-me totalmente insegura, frágil, porém, com uma fé poderosa, uma certeza absoluta que os obstáculos seriam apenas estímulos para quem sabia o que queria. Eu queria conquistar o mundo, deixar de ser um número, um rosto anônimo na multidão, uma peça dessa grande máquina que é a sociedade. Aprendi que na vida nada existe ao acaso, que as coisas não „caem do céu“, por tudo tem-se que lutar e, na maioria das vezes, é preciso renunciar a tantas coisas.  Sou feliz aqui, conquistei meu espaço, fiz carreira, formei uma familia e hoje garantidamente posso dizer que já nao sou mais apenas um número na multidão. Por outro lado, não posso negar que muitas coisas me faltam, coisas simples, banais, coisas que, quando se tem, não se dá valor.  Falta-me, por exemplo, a comidinha gostosa e caseira da minha mãe, o sorvete da sorveteria do Genaro e, em especial a famosa „Vaca Preta, falta-me aquela comida que você come sabendo que é ruim para o estômago, faz mal, é autodestrutiva e é tão gostosa. Aquela que se come em botequins, padarias, feiras, na rua, aquela encontrada nas lembranças da infância. O pastel está em primeiro lugar, o de feira mesmo, do japonês, frito na hora, de carne moida, palmito ou queijo. De carne bem soltinha com uma única azeitona com caroço, nao muita carne, para que, quando sacudido, faça um barulhinho como de chocalho. De queijo, um retângulo bem grande lá em baixo, na última mordida, já começando a endurecer. Ah! O de palmito então nem se fale, bendito na sua umidade. E todos fritos na panela de mil e uma frituras. Quer coisa mais gostosa que comer um pastel encostada no carrinho de feira já cheio, tomando garapa geladinha, com „bobs“ e lenço amarrado na cabeca? Sei que é uma perversidade, mas já fiz muito disso no passdo!
Falta-me aquele cafezinho de botequim, sim, aquele que se toma no copo mesmo, tão quente que é preciso colocar um guardanapo em volta pra não queimar as mãos. Este copo, na maioria das vezes, até meio ensebadinho, mas quem tá ai com isso?
O café no Brasil é um símbolo da hospitabilidade. Em torno da pequena xícara do licor negro, desdobra-se toda a vida brasileira. No café que oferecem os ricos e pobres a pobres e ricos, os brasileiros não dão apenas a bebida saborosa, dão a alma!  Com o cafézinho, que tal uma coxinha de galinha com osso e tudo? Nao que eu queira fazer propaganda aqui,  mas o cafézinho lá do Bar do Ponto é o melhor de todos!
Nas memórias de minha infância despontam perversidades doces também: leite Moca direto da lata; bolacha Maria molhada no café, retirada no momento certo para que não caia dentro da xícara; brigadeiro às colheradas, direto da panela; doce de batada doce bem sequinho; paçoquinha de amendoim; maria-mole; pé-de-moleque daqueles de Festa Junina; bala de côco daquelas que a gente „rouba“ um montão em festas de aniversário; um pedacinho do bolo de casamento „prá levar para o parente que não pôde comparecer“ e que a gente se delicia no dia seguinte com o café.
Saudade da canja de galinha quando a gente fica doente, do leite quente antes de dormir, do arroz-doce, dos fios de ovos, do pudim de leite condensado, sagrado de todos os domingos.
Nao são só as comidas que me fazem falta, é todo aquele modo simples de viver a vida no interior, o carinho das pessoas que demonstram um prazer enorme em lhe ver, os convites para „passar lá em casa“.  E nao me falem pra „passar lá em casa“, pois eu passo mesmo!! 
Ah que saudade de jogar conversa fora com a vizinha, preferivelmente cada uma carregando a sua cadeira e colocando na calçada. Saudade de organizar um churrasquinho informal com aquela cervejinha estupidamente gelada e o som de um violão tocando um sambinha. Saudade de ouvir piadas de português, jogar um „buraquinho“ com os amigos, ver crianças pulando a „amarelinha“ na rua. Saudade de ouvir o galo cantando de manhã, pássaros no viveiro do vizinho, saudade até daquela musiquinha do caminhão do gaz.
Quando falo dessas pequenas felicidades certas, que estão aí diante de cada janela, uns dizem que essas coisas já nao existem mais, outros dizem que é preciso aprender a olhar para poder vê-las assim. Eu aprendi.

E essas doces lembranças permanecerão vivas dentro de mim até o ultimo dia de minha vida, esteja eu onde estiver!

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Caiu a força...

(Rosângela Scheithauer)



Não sei se em todo o Brasil é assim, mas lá na cidade onde nasci, quando ficávamos sem energia elétrica dizíamos: caiu a força!

Aqui na Áustria isso raramente acontece. Outro dia, porém, alguma coisa extraordinária deve ter acontecido na rua onde moro causando a falta de energia elétrica por quase duas horas.

Nada a fazer, comecei a pensar no quanto como nos habituamos e somos praticamente dependentes dos aparelhos domésticos, máquinas, computadores e afins.

Já estava consciente de não poder usar o computador, nem o ferro de passar roupa, ouvir um CD e muito menos colocar a roupa na máquina de lavar. Não pensara na quantidade de coisas impossíveis de serem feitas devido ao „blackout“.

Tomar um cafézinho:  a cafeteira é elétrica!

Secar os cabelos, passar aspirador de pó na casa, descongelar a carne para o jantar ou esquentar o leite (até o meu fogão é elétrico!).

Lembrei-me do fogão de lenha da Dona Natália Duvigo, já falecida, de quem guardo belas e inesquecíveis recordações da infância. Ela se recusava a usar outro fogão, pois dizia „essas coisas novas não trabalham direito!“  Gente, e como era gostosa a comida preparada alí!

Quando me mudei para este apartamento, escolhi uma cozinha funcional. Investí muito em aparelhos domésticos e outras excentricidades. Para que? Sem energia elétrica a „funcionalidade“ dela é igual a zero.

Lembrei-me também do abridor de latas da mamãe, parece uma chave de metal com uma pontinha para encaixe na lata. Ah, que saudade!  O meu é elétrico, portanto, nem a lata de tomates, planejada para o espagueti, poderia utilizar. Na próxima  vez que for ao Brasil preciso me lembrar de trazer um abridor „normal“.

Envolvida em pensamentos fui à cozinha querendo tomar suco de laranjas. Inconscientemente cortei três frutas ao meio e pressionei-as contra o espremedor. Nada aconteceu! Claro, o espremedor também é elétrico. Cadê aquele outro, de plástico, bem baratinho, comprado no Brasil numa daquelas lojas de R$1,99?  Devo ter me desfeito dele por achar maior praticidade no elétrico. Acabei optando por um copo d´ água com um pouquinho de açúcar, a antiga fórmula de calmante usada por minha avó. Funcionou!  Como, aliás, tudo antigo parece funcionar melhor.

Mamãe, me mande um abridor de latas, por favor!

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A mãe dos outros


(R. Scheithauer)


Aprendi que para ser a melhor mãe do mundo não preciso ir a escolas nem consultar livros de psicologia, comprar sabão em pó especial, brinquedos ou chocolates conforme sugerido em propagandas televisivas. Absolutamente nada disso é necessário se você prestar atenção quando seus filhos comecam a relatar as experiências deles com as mães dos outros. Elas sempre têm, sabem e fazem tudo muito melhor que ninguém, são exemplo de paciência, tolerância, criatividade, disponibilidade, permissibilidade e estabilidade emocional.
Essas mães dos outros não possuem defeitos, são as mais perfeitas. Consideram, por exemplo, normalíssimo comer chocolate meia hora antes do almoço ou do jantar, sair de casa com camisa de manga curta em dia de inverno, dormir sem escovar os dentes e chegar tarde da noite em casa. Naturalmente elas permitem que o cachorro durma na cama com as crianças, não são histéricas em termos de higiene, pois possuem um alto grau de compreensão pelo bem-estar dos animais. Possuem incrível sensibilidade a barulho, adoram música no último volume, principalmente „funk“ e „rap“, acham ótimo ter caixas de som espalhadas por toda casa – até no banheiro, imaginem! Essas mães conhecem todos os nomes dos atuais grupos musicais e compram todos os CD`s disponíveis das lojas.
Elas entendem de moda jovem e acham „cool“ usar jeans largos e caidos tendo o „cavalo“ na altura dos joelhos, camisetões velhos, tênis Air-Nike e óculos escuros usados como „arco“ na cabeça.  Muito normal para elas que seus filhos cheguem às três horas da madrugada sem ao menos telefonar avisando onde e com quem estão e conseguem até dormir tranqüilas toda a noite sem a menor preocupação.
Só a mãe dos outros autoriza faltar à escola por uma simples dor de barriga em dia de prova e assinam „de olhos fechados“ as faltas às aulas de ginástica com a justificativa „indisposto“ escrita pelos próprios filhos.  Jamais levantam o tom de voz, não se irritam por nada, são a doçura em pessoa, uns verdadeiros amores.
Outro dia uma dessas „mães dos outros“ me viu no supermercado e disse:
„Ah! a senhora é a mãe do René, a mais perfeita mãe do mundo“. Olhei para ela espantada e respondi:
„Não, a mais perfeita mãe do mundo, de acordo com o René, é a senhora!“
Rimos e nos cumprimentamos por sermos as melhores mães do mundo – se trocarmos os filhos!


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A minha vó!       




Vai ser dificil colocar em palavras o sentimento que tenho por minha vó Cezira, aquela pessoa maravilhosa que cuidou de mim quando eu era pequenina, que me fazia dormir, que me mimava, acariciava, me dava tanto amor. 
Como ela, nao existirá nenhuma outra avó. Ah! Que saudade da minha vó!
Na casinha da rua João Teodoro eu me lembro que ela tinha uma cama reservada só para mim, quando fazia frio ela me punha ao lado do fogão, quando fazia calor ela me deixava só de calcinha no quintal.
Nao tinha comida que ela nao fizesse para mim, bastava só mencionar algum prato e pronto já ia prepará-lo. Que eu gostava de lentilhas ela sabia, cozinhava sempre que eu a visitava.
Roupa nova nunca me faltava, ela sabia que eu gostava.
No meu aniversário me enchia de presentes. Meus irmãos nunca negaram o ciúme que sentiam, ela trazia algum presentinho para eles em seus respectivos aniversários, mas eu também sempre ganhava alguma coisa... e nem era meu aniversário.
O meu vô, que eu carinhosamente chamava de Vô Gordo, era um velhinho simpático que gostava de ir à praça e voltar com uma maçã para mim. Ai de alguem que gritasse comigo! Ele também gritava!  Minha tia que o diga!
Minha vó me levava passear, coisa que eu adorava, e me deixava brincar com as crianças da rua inteira. Até nadar na piscina de uma das vizinhas ela deixava... só que eu nao sabia nadar!
À noite, quando eu dormia na casa dela, nunca faltava uma estorinha, um carinho, um beijo e as palavras „durma com os anjos, fia!“
Não me esqueço daquela vez que fomos à praia, foi a primeira vez que ví o mar. Ela não tirava os olhos de mim, tinha medo do mar, ela tambem nao sabia nadar.  Tiramos fotos  daquelas de binóculinhos, hoje nem existem mais. Ah! Como ela ficou linda naquela foto.
Ela gostava de ir „visitar“ os parentes falecidos no cimitério e me levava junto. Nós andávamos por todos os lados procurando este ou aquele, rezávamos uma Ave-Maria e um Pai Nosso, sinal da cruz, beijo no túmulo, e pronto, íamos para o outro parente  repetir o ato. Eu gostava de olhar dentro das janelinhas dos túmulos para ver se o „parente“ estava lá !     Queria por toda lei levar prá casa os anjinhos dos túmulos, achava-os tao bonitinhos. Ela dizia que nao podia e ria da minha ingenuidade.
Ela não era uma pessoa culta, mas sua sabedoria muitas vezes me assustava.
Minha infância foi bela por tê-la ao meu lado, por ter-me dado aquele amor típico de vó, por ter sido minha amiga e companheira de todos os momentos. Era para ela que eu contava os meus problemas, minhas dores, meus sentimentos. Quando comecei a ter namoradinhos, era para ela que eu contava os meus segredos, ela me dava toda liberdade.
Ela achava graça nas músicas que eu gostava de ouvir, sabia que eu era fã do John Lennon e sempre ria quando eu cantava suas músicas sem entender sequer uma palavra.  Deixava-me ouvir meus discos na vitrola e nunca reclamava do „barulho“.
Quando comecei a trabalhar ela me pedia para „passar lá „ depois do trabalho e eu o fazia com tanto prazer. Às vezes dava só uma passadinha rápida, dava-lhe um beijo e ia embora pois tinha que estudar.
Um dia eu lhe disse que gostaria de ir embora do Brasil, queria conhecer a terra do John Lennon. Ela ficou tão triste, não queria nem pensar nesta idéia.
Lembro-me como hoje do dia em que fiquei sabendo que ela estava doente e precisaria ser operada.  Ela sofreu por alguns meses, eu  a visitava diariamente, sentia suas dores, chorava suas lágrimas. 
Minha vó querida se foi, deixou um vazio tão grande em meu coração, deixou todas as mais belas e puras recordações, deixou em mim todo o seu amor.
Queria tanto que meus filhos tivessem uma avó como a Vó Cezira. Minha mãe seria a candidata ideal, porém, está tao longe deles.  A avó que eles têm aqui não é uma avó de verdade, não faz nada disso que a minha fazia!
Vó mesmo é e será sempre, eternamente, a minha única e mais amada Vó Cezira.
Agora sei porque ela nao queria que eu levasse os anjinhos do cemitério para casa... eles pertencem ao seu jardim! 
Durma com os anjinhos, vózinha!



Rosângela



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FEIJOADA SEM FEIJÃO


(Rosângela Scheithauer)



Muitas vezes até mesmo cozinheiras profissionais têm seus dias desastrosos, não me encaixo na categoria profissional, mas o meu dia desastroso aconteceu há algumas semanas atrás quando convidei amigos austríacos para um almoço bem brasileiro. Resolvi preparar-lhes uma feijoada, pois eles nunca haviam provado a marca registrada da cozinha brasileira.
Levantei-me cedo para iniciar os preparativos para a „odisséia“. Com muito amor e dedicação fui a cozinha às 7 da manhã, sendo que o almoço estava marcado para as 13 horas.
Já havia deixado o feijão de molho durante a noite anterior, teria apenas que cozinhá-lo, adicionar as carnes e o tempero.
Devo esclarecer que na Áustria não encontro os típicos ingredientes como: paio, focinho, pé de porco e farofa. Sendo muito criativa, sempre encontro um ingrediente que „lembra“ bem o original e pronto, problema resolvido.
Quando o feijão estava cozido, adicionei-lhe as carnes que encontrei no meu supermercado: vários tipos de lingüiças, costelinhas de porco, carnes defumadas e  toicinho.
Com o feijão já bem adiantado, comecei a preparar os acompanhamentos.
Fiz um arroz bem gostoso e soltinho, couve – que aqui não existe, porém improviso com um tipo de repolho verde – molho vinagrete, laranjas e farofa. Esta última nem pensar! Os austríacos nunca ouviram falar na farinha e nem sequer na própria mandioca! Meu marido, querendo dar uma de entendido, compara-a com „serra de madeira“ (éca!).
Às 11 horas  só faltava arrumar a mesa, cuja decoração fiz com bandeirinhas do Brasil e da Áustria.
Típico dos austríacos, às 13 horas pontualmente tocaram a campainha.
Ofereci-lhes a tradicional caipirinha e fui à cozinha para os preparativos finais, separei as carnes do feijão, coloquei-as em um pirex, levei todos os demais acompanhamentos à mesa e, com a intenção de servir o feijão bem quente, deixei-o na panela, liguei o fogo e voltei à sala.
A conversa estava tão boa que eu me esqueci do feijão e só fui me lembrar ao sentir um cheiro de queimado. Corri à cozinha e o temível havia acontecido: o feijão estava todo queimado!
Pânico total! Ai meu Deus do céu, e agora?  Chorar não adiantaria nada!
Chamei-os à mesa e servi-lhes as carnes  com o arroz, couve, farofa, molho vinagrete e laranjas.
Pois é, feijoada sem feijão deve ser o que chamam de „Feijoada quase Light“, ou pelo menos estou lançando uma nova receita!
Fui muito elogiada, todos comeram e até repetiram! A feijoada sem feijão foi o maior sucesso.

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Inverno austríaco


(Rosângela Scheithauer)


Para quem não sabe, são 147 dias oficialmente dados ao inverno europeu. Para mim essa informacao é tao interessante quanto a conta da eletricidade!
E gozado que domingo passado ganhamos uma hora em nossas vidas, ou seja, o relógio voltou uma hora. Aqui na Áustria fazem isso porque senão o dia ficaria muito curto e a noite muito longa. Imaginem que às 4 horas da tarde já estaria tudo escuro como se fosse 10 da noite.
Com esse „ganho“ de uma hora podemos curtir a luz do dia até que a curtina do ceú se feche trazendo a noite fria dos invernos europeus.
Quizera que aqui só tivéssemos um mês de inverno e o resto todo de verão!
Mas daí a Austria nao seria a Austria!  Os alpes ficariam peladinhos sem as neves, os esquiadores iriam morrer de tédio.
Até fui aprender a esquiar para ver se começava a gostar do inverno, mas que nada!  Passo um frio do cão, minhas mãos, pés, nariz, rosto tudo se congela a ponto de eu achar que estou com „gangrena“ pois nem os sinto mais. E voces acham que os austríacos reclamam como eu? De maneira alguma!  Esquiam por aquela neve como se estivessem de biquini na praia de Búzios!
É claro que eu gostaria de me „sentir em casa“ tanto quanto eles, mas não consigo. Não nasci para passar frio e nem para esquiar.
A única coisa boa do inverno é que durante os preparativos para o Natal a cidade fica toda iluminada, luzinhas coloridas, enfeites, decorações, tudo unido ao bom humor do austríaco nas barraquinhas montadas em toda esquina onde se tomam deliciosos „punchs“ (vinho tinto quente – parecido com a sangria), castanhas e batatas assadas, salsichas de todo gênero e a música de uma sanfona para dar o toque final de alegria.
Nessas horas esqueço que o frio é frio e depois de uns golinhos do „punch“ o corpo esquenta, a cabeça roda e só então me sinto como uma verdadeira austríaca!
„Prosit!“  dizem eles!  „Saúde“, digo eu!


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 SAUDADE DE CHEIROS
(Rosângela Scheithauer)



Cheiros... ah! Como é bom ter um bom olfato e poder distinguí-los. Os cheiros das coisas da infância, por exemplo, esses ficam marcados para sempre. Eu que já estou há tantos anos fora do lugar onde nasci e cresci, mesmo que me colocassem um lenço nos olhos, me transportassem  para lá e me perguntassem onde estou eu saberia dizer no ato!  A própria chegada ao Brasil já é peculiar, ao abrir a porta do avião já dá prá sentir o cheirinho de Brasil!  Alí na região ao redor de Mogi Mirim onde cresci o olfato „faz a festa“! Que coisa boa poder sentir o cheiro de eucaliptos, de mato, de sitios, cavalos, vacas e porcos. O cheiro por lá é interminavelmente de interior, só quem lá nasceu para saber que é assim mesmo!
Nos mercados de rua então nem se fala, é aquele cheiro maravilhoso de peixe, carnes, frutas de todo genero, tamanho e cor, verduras por toda parte, tudo unido ao mais gostoso som de conversa fiada, discussao de preço, gritos daqueles que querem vender mais pelo tradicional  „aqui é o mais baixo preço“, de sorveteiros, pipoqueiros, vendedores de roupa, sapatos e outras „bugigangas“ mais. 
E quem é que näo sabe que está num banheiro limpinho quando entra em um? Que coisa gostosa sentir aquele cheirinho de Pinho Sol ou mesmo o cheirinho de roupas lavadas com „Quiboa“, penduradas no varal do fundo dos quintais!  Que festa para os olhos ver toda aquela mistura de cores, calcinhas, sutians, cuecas, meias, fraldas, panos- de- prato, lençois, tudo esticadinho e preso com prendedores de madeira que se compra em supermercados ou „armazéns“.
E não vão me dizer que não se lembram dos tempos em que se passava cera no chão para  ficar brilhando (nao sei se estou correta, mas acho que a cera se chamava Colmeína), escovava-se com escovador de mão ou com a enceradeira, um ritual de uma vez por semana que deixava a casa brilhando e aquele cheirinho durava a semana toda.
Cheiro de nenê novo então, que delicia. Os sabonetes Johnson eram indispensáveis para dar aquele toque final e aquele cheiro de „após banho“ é inesquecível. Hoje que os meus filhos já estão crescidos eu daria tudo prá sentir aquele cheirinho novamente.
E a comidinha caseira?  Ô gente! Que coisa boa chegar em casa e sentir aquele „perfume“ de feijão cozido na hora, um refogadinho e a mãe da gente dizendo: „“filha, hoje achei um milho lindo na feira e cozinhei pra voce, do jeito que voce gosta“. Já que cheguei ao assunto de comidas, vamos lembrar do cheiro da galinha de panela, aquela que a mãe ou „vó“ da gente matava lá no fundo do quintal, tadinha da galinha, mas que depois a gente saboreava até escorrer pelo queixo. Nada como uma boa Polenta com Frango, nao é mesmo?
Vamos falar a verdade, que coisa maravilhosa  e dolorosa é a memória, não acham? Maravilhosa pois nos permite lembrar „como hoje“ essas coisas do passado e dolorosa por nos fazer lembrar de coisas que não voltam mais.
Se eu lhes disser que não me esqueço nunca daquele cheirinho horrivel da Champion (hoje International) ? Todo mundo reclamava... mas até hoje quando sinto aquele cheirinho peculiar  volto ao meu bom tempo de juventude pegando o onibus da Santa Cruz e indo trabalhar como secretária na Champion... aquilo era „Status“.  Nao sai da memória nunca.
Esses cheiros todos nos transportam para um belo tempo que existiu, fez parte de nossas vidas, marcaram para sempre em nossa memória.
Eu me pergunto se os cheiros das ruas de Viena ficarão assim tão marcados na memória de meus filhos? Será que eles vão contar aos filhos deles como era bom o cheiro dos bondes? 
Duvido...


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Saudade de „outro“ Brasil


Por enquanto acho que vou ficando por aqui mesmo, viu? Na Áustria nao tem
nada disso! De vez em quando umas briguinhas aqui e acolá entre políticos,
mas "fichinha" em comparacao aos casos do Brasil.
Sim, morro de saudade do meu país. Mas acho que se analisar bem, a saudade
é das coisas daquele tempo atrás (sao mais de 30 anos!!!) que nao volta
mais.
Já nao sei mais o que é viver no Brasil de hoje, nao sei o que é enfrentar
ladrao, ser assaltado em plena luz do dia, entrar em caixas-automáticos
blindados olhando para o guarda lá fora com uma metralhadora na mao só
para sacar um pouco de dinheiro! Nao sei o que é ver favelados, gente
passando fome, mendigos, desrespeito à leis, corrupcoes, sujeiras políticas,
ladroes de alto calao, "baixarias" de senadores, governadores, professores sendo
ameacados pelos próprios alunos, coisas que realmente chocam... Nao estou acostumada
a sair na rua e ter medo das pessoas no onibus, no trem, no supermercado, no banco,
em todo canto, em todo lugar.
Cadê o Brasil de 1978??? Será que algum dia ele voltará a ser como era?
Nesse dia entao eu volto!




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UM CARRO FEMININO


(Rosângela Scheithauer)


Milhões de mulheres necessitam de seus carros para facilitar os afazeres da vida cotidiana. Levam crianças à escola, fazem compras no supermercado, vão ao trabalho, viajam, visitam parentes ou amigas. Podemos indiscutivelmente afirmar que o número de homens e mulheres motoristas está na proporção de 50/50%.  Levando esta estatística em consideração, escrevo esta minha crônica particularmente às indústrias automobilísticas, pois, ao meu ver não estão dando o valor merecido às clientes femininas.

 Analisem bem:  por acaso existe carro com um compartimento para a bolsa da mulher?  Se existir, por favor queiram informar-me a marca.

Noto que a maioria dos comerciais aproveita a beleza feminina para vender carros e outros produtos automobilísticos na televisão. Claro, o sorriso maravilhoso de mulher feliz atrás de um volante vende mais que o de um homem!

Só não entendo porque ainda não inventaram um carro feminino!
 Sim um carro simples, prático e funcional com um compartimento para a bolsa.

Enfrento o mesmo dilema todos os dias: onde colocar a bendita bolsa?  Normalmente jogo-a no assento ao lado, porém, esta opção não é a ideal se eu estiver viajando com uma amiga, o que me obriga a colocar a bolsa no chão em frente aos seus pés ou no assento de trás. Esta última opção será também inadequada se, além da amiga, estiver viajando com meus dois filhos.

Quantas vezes esqueço de fechar a bolsa e na primeira curva lá vai todo o conteúdo para o chão ou para aquela pequena fresta da porta.

Todos sabem quantos objetos de primeira necessidade a mulher carrega em sua bolsa, mas vale lembrar: chaves, cadernetinhas, maquiagem, vidrinho de perfume, cartão de crédito, óculos, pentes, chicletes, fio dental, lencinhos, papéis,  enfim, todas aquelas coisinhas básicas  importantíssimas.

 Já aconteceu de ser abordada por policias solicitando a minha carteira de habilitação, ter que sair do carro, dar a volta, abrir a porta ao lado, ajoelhar-me, ficar com a cabeça quase grudada ao chão, tendo o policial atrás aguardando pacientemente enquanto eu, naquela posição de „Napoleao-perdeu-a-guerra“  ridícula,  procurava o documento. Imaginem isso acontecendo em dia de inverno, temperatura a 8 graus negativos, neve, tapete do carro todo sujo e molhado e o conteúdo da bolsa alí, todo esparramado...

Houve ocasião em que um passageiro entrando em meu carro com os sapatos sujos acabou pisando bem em cima da minha bela bolsa de couro!

Outra situação já enfrentada por mim: a gentil amiga coloca minha bolsa em seu colo, porém, ao sair do carro esquece-se da mesma e tudo cai na rua, às vezes até sob as rodas.

Será que técnicos, construtores e planejadores de carros nunca pensaram neste problema?

Tenho até um nome adequado ao novo modelo :  „Lady“.

Deixo minha idéia registrada e „patenteada“ na internet. Se alguma indústria automobilística quiser usufruir e garantir sucesso absoluto,  estou à disposição para maiores informações e detalhes.

Ah! Finalizando:  não daria para empregarem mulheres técnicas, construtoras e planejadoras nas firmas automobilísticas?
Ou será que teremos que esperar pelo dia em que HOMENS começarem a carregar bolsas?




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WACHAU  -  Onde Deus parou para descansar

(Rosângela Scheithauer)



A Áustria é um país muito pequeno, pode-se percorrê-la de leste a oeste em menos de 7 horas. Seria difícil apontar a região mais bonita, pois o país inteiro é um verdadeiro cartão-postal. Entre as regiões preferidas eu diria que Wachau está num dos primeiros lugares, pela sua beleza natural, seus vinhedos encantados, árvores, frutas e, acima de tudo, a maravilha do rio Danubio mostrando toda sua imponência e dando „show“ aos olhos dos turistas. A começar do Castelo Schönbühel na „boca“ das colinas de Wachau, visto ao entrar a região pelo Danubio. Logo mais, sempre ao longo do rio, outra beleza chamada Dürnstein, uma cidadezinha com apenas 1.000 habitantes, considerada a pérola de Wachau. O rei inglês Ricardo Coração de Leão não deve ter tido a mesma impressão, pois foi feito prisioneiro no Castelo Dürnstein no ano 1192; hoje as ruinas no alto da colina convidam turistas a fazerem um passeio até lá a fim de poderem admirar o esplendor do belo Danubio.
Wachau faz parte da Áustria Inferior, ou Baixa Áustria, também conhecida como a melhor e mais conhecida região produtora de vinhos. Dizem os conhecedores que o vinho branco desta região faz a mais perfeita simbiose com o prazer de comer bem, calor humano e simpatia. Por toda parte é possivel sentir o calor com que os anfitriões recebem seus hóspedes, sempre com um sorriso amigo e palavras de boas-vindas. Nem é necessário visitar restaurantes finos para se apreciar o tratamento amistoso das pessoas; qualquer „Beisl“ (pequenos locais) dá a mesma sensação, tomando um copo do delicioso vinho acompanhado de pão e fatias de salsichas variadas. A maioria dos locais gastronômicos possui um jardim com mesas e cadeiras para que os hóspedes se „sintam em casa“.  Na primavera e verão é impossivel achar um austríaco „dentro“ dos restaurantes, eles preferem ficar para „fora“, nos jardins, apreciando a natureza, comendo, bebendo, ao som de sanfonas e violinos tocando valsas ou músicas típicas.
Quem visitar esta região entre Abril e Maio poderá vivenciar uma experiência inesquecível: o florir das árvores de damasco. É um verdadeiro colirio para os olhos aquelas centenas de árvores carregadas de flores brancas e rosadas. A colheita das frutas é feita em Agosto, austríacos de todo país vêm buscar as frutas para a própria manufatura de geléias e „schnaps“, um tipo de aguardente chamado „Marilleschnaps“. Sempre digo aos meus amigos que esta é a „cachaça“ dos austríacos!
Outra atração da região é a famosa igreja barroca de Dürnstein, pintada em tom azul-claro, a mais fotografada e amada,  conhecida como „Dedo Indicador de Deus“.  De acordo com a lenda local, Deus parava aqui para descansar enquanto criava o mundo.
Como diz aquele ditado italiano: „si non é vero é ben trovato“.  (se nao for verdade, foi bem inventado).





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Tempo bom aquele...

(Rosângela Scheithauer)


Vocês também, como eu, têm aquela música especial que sempre os transporta para a infância ou juventude? Devem ter, pois a música é poderosa, arquiva-se em nossa memória e nunca mais sai. Não me lembro se foi Nietzsche ou outro filósofo a dizer: „Sem música a vida teria sido um engano“.
Quantas vezes me transportei anos na vida ao ouvir músicas relacionadas ao passado. John Lennon é um dos que me leva aos tempos dos doces 16 anos, calça boca de sino, camiseta curta mostrando o umbigo, roupas psicodélicas da era hippie. Cantava a canção „Imagine“ sem entender um „a“ de inglês e a sabia de cor!  Aliás, ele sempre foi meu grande ídolo, tinha um caderno de capa dura onde colecionava suas fotos. Sentia verdadeira paixão por John e quando o via abraçado a Yoko a recortava.
Na época possuia uma vitrola de rotação, hoje deve ser peça de museu, onde ouvia repetidamente as músicas de seu LP, sendo „Imagine“ a mais tocada. Minha querida avó (leiam uma outra crônica minha entitulada „A minha vó“) chegava a brigar comigo dizendo: „Fia, chega de ouvir sempre esse „pipo“ – referia-se ao „people“ quando eu cantava „imagine all the people...“ centenas de vezes seguidamente.
Quem nunca ligou um fato de sua vida a uma trilha sonora? Quer coisa melhor do que ligar o rádio e ouvir aquela canção predileta? é como se o cantor nos dissesse „bom dia, coração“!
Nada mais romântico que estar num restaurante jantando à luz de velas ouvindo canções de Toni Benett ou Frank Sinatra. Não precisaria de caviar ou champagne para acompanhar, bastaria macarrão, vinho e a música para fazer da noite um evento especial.
Quantas vezes nos engarrafamentos coloquei meu CD favorito e me deixei levar pelos sons de pura magia me fazendo esquecer do caos lá fora.
Até mesmo as canções infantis marcam, como aconteceu outro dia em Attersee, um dos mais belos lagos da Áustria, repentinamente ouvi alguém cantando o „Nana nenê que a cuca vem pegar“. A principio achei que estava sonhando, não era possível alguém na Áustria cantando o „nana nenê“! Estávamos em um restaurante e, para minha surpresa e alegria, deparei com uma brasileira de Recife, casada com austríaco, cantando para seu bebê dormir. Quase chorei de emoção! Cantei a mesma canção tantas vezes para meus filhos! Fui até ela e a abracei comovida.
A música nada tem a fazer com limites, simplesmente chega e se aloja dentro de nós, sem algemas nem parâmetros. Como na arte, música é questão de gosto, não deve ser discutida, pois cada um tem seu gênero predileto.
Sim, Nietzsche ou seja lá quem foi que disse „sem música a vida teria sido um engano“ tem toda razão. Não somente um engano – não seria vida!

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Ordem familiar


(Rosângela Scheithauer)



Cada vez mais percebo que a convivência com pessoas incapazes de manter ordem em seus pertences torna-se difícil; a convivência com pessoas incapazes de manter ordem nos pertences dos outros é ainda pior! Tenho três dessas últimas espécies em casa e admito às vezes perder a paciência com suas desorganizações.
Citando um exemplo de situação corriqueira: compro um jornal e vou para casa feliz na expectativa de sentar na poltrona da sala e ler tranqüilamente as noticias do dia; coloco-o na mesa enquanto vou para a cozinha preparar um café, pois gosto de um cafézinho enquanto leio o jornal – posso me dar esse luxo, não? Levo a xícara de café para a sala, sento na poltrona predileta, estendo a mão para pegar o jornal e cadê ele?!  Evaporou como em show de mágica.  Procuro-o por toda casa e encontro a seção de esportes no banheiro, a seção infantil em um quarto, cultura e política em outro e a seção internacional continua desaparecida. Pergunto se alguém viu a „minha“ seção internacional e, obviamente, ninguém viu ou pegou nada da mesa. Como dizia minha avó: „isso é obra do espírito santo“!
Outra situação: chego em casa à noite após um longo dia de trabalho, reuniões escolares, compras e afins, tendo em mente única e exclusivamente a cama para me deitar e dormir. Impossível!  Ao estender meu corpo sob as cobertas noto „farelinhos“ de biscoito ou algum outro tipo de comestivel deixado por algum membro da familia justamente no „meu“ lado da cama. Não me resta outra solução senão levantar, chacoalhar toda a coberta e, eventualmente, até trocar toda a roupa da cama. Nisso o sono e a vontade de dormir passa e lá vou eu para mais uma noite mal dormida.
Na maioria das familias o irmão sabe que não pode mexer nas coisas da irmã e vice-versa. Ambos também sabem que de maneira alguma devem „bagunçar“ a escrivaninha do Papai pois estão cientes das consequências.
Entretanto, sem qualquer peso na consciência, desarrumam, escondem, pegam sem pedir, emprestam e não devolvem objetos que a dona-de-casa e mãe necessita para o bem-estar e ordem familiar. Tudo isso porque os membros da familia nem sequer sonham que a dona-de-casa e mãe também possui alguns pertences de grande importância ou necessidade.
Até já pensei em iniciar uma guerrinha em casa: se sumirem com meus pertences, sumirei com os deles, uma seção internacional do jornal contra um tênis Nike.  Será que só assim para entenderem o significado de „ordem familiar“?
Aaaah… xápralá vai ! 

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QUANDO O CORAÇÃO TRAVA

                         
                                   (Rosângela Scheithauer)


Só me dei conta do quanto uma simples crônica pode afetar alguém ao ler o e-mail de um amigo internauta dizendo que chorou ao ler uma das que escreví.
Era uma hora da madrugada e, de repente, ele voltou atrás anos de sua vida relembrando fatos vividos em sua infância e juventude.
Aí eu me perguntei: e não é justamente isso que nós escritores esperamos que aconteça? Que alguém leia nossos textos e se sensibilize a ponto de chorar ou morrer de rir?
Afinal de contas, não é por acaso que dedicamos bom tempo de nossas vidas sobre livros e folhas em branco!
Minha intenção como escritora é a de fazer exatamente isso, de tocar lá no fundo, de fazer o coração travar.
Escrevo sobre minhas experiências, minha infância, juventude, namoros, tudo o que marcou em minha vida. E se alguém se identifica com minhas vivências, coloca-se em meu lugar, sente o que sentí, vive o que viví e chora o que chorei, minha missão pode se dar por cumprida.
Na crônica em questão eu escreví sobre meus pais, ele enxergou os dele, falei de meus namorados e ele se viu namorando no fundo de um quintal, à luz vermelha dançando abraçadinho ao som dos Bee Gees. Falei do meu filho e ele se viu no hospital aguardando o nascimento da filha, sentindo as dores do parto de sua esposa, rolou em seu rosto a mesma lágrima da hora do primeiro choro do nenê, voltou toda a ansiedade e o medo por se sentir impassível diante de um dragão.
Tudo isso por causa de algumas palavras escritas por uma pessoa que ele nem sequer conhece pessoalmente!  Por alguns momentos, no outro lado do mundo, um coração travou-se com minhas palavras.
Ele até me pediu para no futuro, quando escrever textos semelhantes, colocar ao lado do título o grau de profundidade que irei abranger.
Não são todas as pessoas que conseguem sentir a profundidade das palavras do escritor, mas as poucas dotadas desta sensibilidade servem como estímulo nesta árdua luta tentando encher folhas com palavras que transmitem um sentimento!
O coração dele travou, o meu só se abriu!

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Rerum omnium thesaurus memoria 
(A memória é o tesouro de todas as coisas)



De um tempo para cá tem me ocorrido, assim, quase que do nada, lembranças do meu passado; não passado recente, mas passado bem distante; lembranças de detalhes que normalmente eu não me lembraria assim, do nada e que não foram tão marcantes ou relevantes como por exemplo lembrar de quando meu avo José Magaldi (que eu chamava de Vo Gordo) me colocava sentadinha no portao da casa da Rua Joao Teodoro e dizia: „fica quietinha aí Fia, vou comprar uma maca pra voce ali na esquina e jajá eu volto“. Lembro-me dessa cena direitinho,  lá longe na dobra da esquina vejo-o voltando com a maca vernelha na mao.
Falo de lembranças de pessoas, frases, coisas que fiz, comidas que experimentei, sons que ouvi, imagens que capturei e ficaram registradas, principalmente de quando eu era criança.
Recordar é bom, porém às vezes dói, pois nos transportamos para um tempo que infelizmente nao volta mais.

Vou detalhar algumas das coisas que mais me lembro da infancia e voce que está lendo faca uma marquinha naquelas que também se lembra – só pra ficar mais gostosa a leitura e colorir a lembranca.
Comecarei mencionando os doces, que aliás,  me perseguem até hoje  (como dizia minha avó „sou uma formiguinha“):
-        Lembro-me daqueles saquinhos coloridos que eram vendidos nas feiras e vinham dentro de embalagens de plástico transparentes no formato de carrinhos, revólveres (naquela época ninguem levava a mal brincar com revólveres), frutas, etc.  Eram ruim pra burro, mas dava a maior vontade!
-        Havia umas garrafinha de refrigerante que naquela época dos idos anos 60/70 tinham rótulo de papel e um pedaco de cortica dentro da tampinha de metal;  de vez em quando aparecia umas promocoes interessantes:  tínhamos que raspar a cortica pra ver se na tampinha estava registrado algum „premio“.  Nunca soube de ninguem que houvesse ganhado algo,  mas todo mundo raspava.
-        Lembro-me do guaraná caculinha da Antárctica  e daquelas máquinas de padaria onde tinha que colocar 25 centavos para tirar alguns confetes  ou aqueles chicletes coloridos no formato de bolinha ou entao um punhado de feijoezinhos coloridos!  Era uma diversao!!  Nao fazia isso com frequencia, pois nao tinha os trocadinhos necessários.  Por falar nisso,  naquela época ninguem tinha mesadas como as de hoje em dia, nao havia consumismo algum, vivíamos com pouco e mesmo assim éramos felizes.
-        Lembro-me daqueles pacotinhos de Ki-Suco que tinha a jarrinha sorrindo! 
-        Adorava os pirulitos Zorro – aqueles compridinhos no formato retangular.  Muitas vezes grudava no dente e demorava até conseguir desgrudar!
-        Havia uma bala de mel e também uma de banana que quase arrancava as obturacoes dos dentes da gente!
-        Lembro-me quando minha mae fritava Mandiopa – uma massinha que ela fritava e ficava enorme e encharcada de óleo, mas que era uma gostosura!
-        E aqueles doces vendidos na rua, alguem se lembra?  Um tio da minha mae, o tio Diogo, andava pela cidade inteira carregando uma cesta vendendo quebra-queixo, machadinha, amendoim caramelizado, doce de coco branco e coco queimado, doce de leite…  nossa,  era tudo de bom!
-        Quem se lembra do sorvete de Itu, cilíndrico e com 3 cores, cada cor com um sabor;
-        Dos doces do armazém da D.Eunice Davoli: coracao de abóbora e batata, maria-mole, teta de negra, doce de banana no copinho de sorvete, chupetinha ou galinho que eram vermelhos feitos de acúcar queimado  -  uma perdicao para os dentes, mas as criancas adoravam!
-        Lembro-me daquelas promocoes da Kibon onde tinha que juntar 7 palitos com a marquinha da Kibon para depois trocar por outro picolé.
-        Ahhh! E aqueles vendedores de algodao doce que faziam barulho com uma matraca que era um pedaco de madeira com um pedaco de ferro que batia de um lado para outro e fazia plac plac plac plac!
-        E aqueles Dadinhos da Diziolli?  Havia até alguns em loja de mágica que soltavam tinta azul na boca e depois ficávamos mostrando a lingua para os amigos!
-        Lembro-me do Toddy que tinha um índio como mascote e na época vinha com uns bonequinhos dentro do video.
-        Havia aqueles sorveteiros que vendiam uns sorvetes que saiam de uma máquina onde em cima havia umas garrafas com um líquido colorido, cada um com sabor  diferente. Depois de escolhido o sabor  o sorveteiro abria a torneirinha da garrafa correspondente!  
-        Nossa!  Quem se lembra do Pingo de Leite da Avaré?
-        Eu adorava fazer creminho de leite em pó Ninho, que naquela época dentro da lata havia uma medida de metal, daí eu colocava várias medidas em um copo, bastante acucar e água que pegava da talha.  Uma delicia!
-        Quem nao se lembra de ter visto a mae ou avó passando café em coador de pano?  Por muito tempo minha mae só usava coador de pano  -  e o café dela era delicioso.
-        E vai me dizer que voce nunca comprou uma „bengala“ na padaria?   Ou  os sonhos da padaria Alvorada (da familia Bernardes)  -  eram recheados com um creme branquinho delicioso.  Até engolí seco agora!

Agora é a vez de mencionar os brinquedos  e, como já mencionado anteriormente,  nao tínhamos muitos,  mas os poucos que tínhamos eram realmente usados até o fim, ou seja, brincávamos sem parar.
-        Alguém se lembra daqueles „bate-bate“ que eram vendidos na banca de jornal? Era composto de duas bolas de resina presas por um cordao que ficava batendo e fazendo o maior barulho… e nao era nada legal quando uma das bolas pegava no dedo da gente!
-        Perdi horas e horas tentando decifrar o Cubo Mágico.
-        Quem aí nunca empinou maranhao (também chamados de Pipa ou Papagaio), jogou piao, bateu figurinhas fazendo antes „bafo“ com as maos. 
-        Piao de gude era brinquedo que os meninos gostavam de brincar, mas as meninas também!
-        Lembro-me do Cachorrinho Xereta, tinha que puxar uma cordinha no pescoco pra ele sair andando.
-        Quem é que nao leu os gibizinhos do Pelezinho, Turma da Monica, Fantasma, Mandrake ou mesmo as histórias da Carochinha?   Meus irmaos colecionavam esses gibizinhos, entao sempre tinha em casa pra gente ler.
-        Das brincadeiras de taco na rua  e das „descidas da ladeira“ com carrinho de rolema.
-        Das andadas de biciletas…  certa vez fui tentar „copiar“ a fantástica idéia do Sidney Coser de andar de olhos fechados.  Já imaginaram o resultado, né?  Voltei pra casa toda esfolada!
-        Havia uns decalques que a molhávamos na água para depois serem aplicados no caderno o uno livro de escola.
-        Os meninos colecionavam figurinhas e viviam trocando entre amigos para ver quem conseguia encher o caderno em primeiro lugar.  Esses cadernos eram vendidos na banca.

Vou tentar relembrar os programas de TV que mais marcaram:
-        Alguém se lembra de ter assistido aquele documentário do Canal 100 antes de ver o filme no cinema?  Daquela mensagem da censura que dizia que tal programa na TV era apropriado para maiores de xx anos.
-        Do técnico de TV que ia lá em casa trocar uma bendita válvuva queimada!
-        Das vezes que meu pai ou algum parente subia no teto da casa pra ir virar a antena quando a TV nao pegava direito.  Era aquela gritaria !  A pessoa lá em cima perguntava: „ Tá bom assim?“  e a de pessoa lá de baixo respondia  „ Vira mais um pouco“  até achar a posicao ideal para pegar o canal desejado.
-        Dos filmes tipo „Combate“ que assistíamos com meu pai na sala e muitas vezes caíamos dormindo no sofá e depois éramos levados para cama. Às vezes eu até fingia que estava dormindo só pra ter o gostinho de ser levada no colo para a cama!
-        Se nao me engano a primeira novela que me lembro de ter assistido foi Ressureicao  - depois mais pra frente uma outra que marcou foi  Selva de Pedra com o Francisco Cuoco que era „um pao“   -  gíria da moda  equivalente ao  „gato“  de hoje em dia.
-        Aos domingos havia o Programa do Chacrinha e do Silvio Santos.  Esse último continua na TV com o mesmo programa, entao todo mundo sabe quem é!
-        Lembro-me direitinho quando o Roberto Carlos ganhou o primeiro lugar lá em San Remo, na Itália, com a música  „Canzone per te“ em 1968.  Um orgulho para todos nós brasileiros, pois até entao nunca nenhum artista estrangeiro havia conquistado esse premio!
-        Alguém se lembra daquela propaganda de um Xampu – se nao me engano era da L`Oreal  onde a mocinha dizia:  „Ei ei!!! Voces se lembram da minha voz? Continua a mesma, mas os meus cabelos!!!!!“
-        Lembram daquela propaganda do Perú da Sadia, aliás,  virou símbolo da marca sadia aquele peruzinho que usava capacete e óculos de motoqueiro!  
-        E tinha aquele anuncio que era assim:  Cena de um casamento, padre falando… aí a noiva comeca a se lembrar de quando eram criancas e aparecem as cenas nebulosas… „desde que era crianca ele já era bonitinho e engracadinho! Acho que desde aquele instante peguei-o pelo estomago! Mamae passou a colocar dois sanduíches na lancheira!  Aí o menininho pergunta: „É pao Pullmann?“  e ela responde, em voz alta, no presente, no mesmo instante que o padre faz a clássica pergunta:  „Aceita-o como seu legítimo esposo?“   ao que ela responde: „Sim, Pullmann!“
-        E por falar em televisao, alguem se lembra daquela Colorado preto e branco? Normalmente era acompanhada por uma mesinha de ferro e fórmica e na tela víamos o Cid Moreira e o Francisco Cuoco de cabelos pretos!!     Às vezes dava problema na imagem, entao além do Bombril na antena, colocávamos um papel celofane verde, azul ou vermelho na frente da tela para dar um „colorido“ mais bonito!  Com o alaranjado também ficava jóia!!!!


Lembrando-me dos carros daquela época:
-        Quem se lembra do Gordini; TL; DKW; Simca Chambord; Kharmann-Guia; Vemaguete; Romiseta; Dalphini; AeroWillis; Maverick?
-        Voce se lembra de ter andado em um Puma GTB ou em um Passat TS,  no clássico Opala ou  no Chevette SS que tinha faixas pretas pintadas no capo?  Era o máximo!
-        Mais pra frente surgiu o Corcel I  e depois o Corcel II
-        Lembram-se das lambretas?  Era o máximo „dar uma voltinha“  vestindo calca boca de sino de cor bem forte usando óculos de gatinho.   Certa vez mandei fazer uma calca boca de sino roxa, acho que devia medir uns 50cm só de boca. Lembro-me de ter usado essa calca em um baile de carnaval e no dia seguinte saí direto do clube para ir trabalhar na Champion!  Nao deu tempo de voltar pra casa para trocar de roupa!!!  Já imaginaram a cena?   Ainda bem que o meu chefe tinha um bom senso de humor.

Roupas que vestíamos naquela época:
-        Quem se  lembra do Ked´s?
-        Das calcas cocota ou também chamadas de Saint-Tropez?
-        Usei muitas Japonas.
-        E voces Meninas, por acaso usaram cinta-liga? Calca Topeka? Anágua ou combinacao?  Blusas ban-lon?
-        Lembro-me que o meu maior desejo era ter um macacao Lee,  mas custava muito caro porque era „importado“.  O Zé da loja Santista era o único que tinha pra vender na época.  Com 15 anos fui me oferecer para ajudar a Cema Dovigo no salao de cabeleireiro que ela tinha ali na Santa Cruz, aprendi a fazer unhas e ia lá ajudá-la aos sábados porque o movimento era grande.  Com o dinheirinho que ganhei trabalhando consegui economizar o suficiente para comprar o meu tao sonhado macacao Lee!  Que alegria depois poder „desfilar“ com ele  pela praca Sao José.  Por baixo eu usava uma camiseta amarela curtinha  daquelas que deixavam a barriga de fora.

As lembrancas vao passando em minha mente como fita de filme que vai passando devagar e vai me fazendo voltar aos anos passados.  Lembro-me daqueles senhores que ficavam na porta da escola vendendo doce e também salgadinhos de pacote (tinha de cebola, de queijo, mas na verdade nao tinham gosto de nada!) e vendiam também amendoim em um cone de papel.   Lembro-me daquele senhor que tinha uma carrocinha que ficava parado ali na praca Sao Jose vendendo pipoca que depois a gente colocava um tipo de pimenta por cima. Nunca em nenhum outro lugar do mundo comi pipoca desse jeito.   E havia também aqueles senhores que vendiam raspadinha  -  lembro-me de um que ficava sempre ali no Jardim Velho  com um pedacao enorme de gelo que ele raspava e colocava groselha por cima servido em um copinho branco no formato de cone. Era a chamada Raspadinha!
Fui alfabetizada com a Cartilha Caminho Suave,  era uma cartilha que despertava a imaginação, talvez por isto aprendia-se a ler com facilidade e a gostar de estudar !
Graças a cartilha Caminho Suave e posteriormente a Monteiro Lobato, com as estórias do Sítio do Pica Pau Amarelo aprendi o que um estudante de segundo grau e até mesmo alguns atualmente na faculdade desconhecem. Adorava ler!
Fiz curso de datilografia lá na escola da D.Cecilia Parra – a melhor escola da cidade.  Nos dias de prova as teclas ficavam todas tampadas e tínhamos um determinado tempo para datilografar o texto que nos era dado.  As máquinas eram Olivetti e muitas delas tínhamos que bater bem forte para a tela entrar. 
Na escola eu usei Desenhocop, régua geométrica, borrachas Mercúrio de duas cores, lembram? (azul para tinta e vermelha para lápis).
Os banheiros tinham uma privada onde havia uma cordinha pra gente puxar para dar a descarga.    
Quem se lembra de ter tomado banho de bacia??  E a água, que era aquecida na chaleira e depois misturada com água fria, tinha que dar ao menos para duas pessoas  - primeiro uma, depois a outra.  Os chuveiros elétricos só comecaram a aparecer mais tarde.   Sabonete era da marca Gessy Lever que  usávamos até ficar fino como uma gilete.
Os sapatos eram engraxados com graxa Nugett ou Odd que tinha uma latinha com um abridorzinho em forma de borboleta. Algumas pessoas colocavam  a latinha no fogo para derreter a graxa quando ela ficava quebradica.
Lembro-me daquelas máquinas fotográficas Xereta da Kodak que usavam aqueles cubos de Flash!
Meu pai contou que antigamente os homens iam aos barbeiros para fazer a barba com navalha.  Quando terminava ele perguntava aos clientes: álcool ou talco?  O único pós-barba que existia na época era a Água Velva.
As geladeiras da época eram Frigidaire ou Brastemp, aquelas redondinhas com o indispensável pinguim de porcelana em cima!
Nas escolas  fazia-se os trabalhos escolares em papel almaco  e  enfeitava-se a casa com papel crepom.
Lembro-me dos lanterninhas dentro dos cinemas que ajudavam as pessoas a achar seu assento quando a sala estava escura.
Os perfumes da época eram Seiva de Alfazema, Leite de Rosas, desodorante Avanco e Palmolive, Alma de Flores. Para os homens era o perfume Embassy,  mas um pouco mais tarde nos anos 70  o mais chique (e super caro) era o perfume  Paco Rabanne.
Meninas, voces se lembram das saias de Tergal e das Balones?  Calcas Semi-Bag? Sandália de plástico com meia soquete prateada?
Lembrei-me dos gibis da Luluzinha e Bolinha e sua Turma.  Nao tinha quem nao lesse os gibis da Monica e Cebolinha e muitos de meus amigos adoravam colecionar. A meninada pegava aqueles já lidos e relidos e levava até o tio da banca para trocar dois por um. Era uma festa voltar pra casa feliz e contente com uma nova pilha de revistinhas para ler e entrar naquele mundo de fantasia que elas proporcionavam.   Havia umas revistas chamadas “Risca Aparece” que eram inteiras em branco, aí pegávamos um lápis e ficávamos rabiscando e desenho ia aparecendo. Tinha também aquelas “Pinte com Água” onde se molhava o pincel na água e ia passando no desenho em branco e cada parte do desenho ficava pintado de uma cor diferente. Parecia mágica!
Quem aí já usou goma arábica como cola para trabalhos escolares?    E quem fez cola caseira utilizando farinha de trigo e água  para colar maranhao?  Eu própria nao fazia, mas meus irmaos sim!
Na casa de voces tinha aquela bombinha de aluminio para espirrar Detefon e acabar com a vida dos pernilongos?   Nossa, aquilo lá era um verdadeiro veneno  -   e nao sómente para os pernilongos!!!!!
Lembro-me que na escola primária Santa Cruz do Belém  (hoje chama-se Francisco Piccolomini)  eu usava uma régua de tabuada.   Ai de quem nao soubesse a tabuada de cór e saltado!!!  
Antes de comecar as aulas a escola inteira se reunia no pátio principal para cantar o Hino Nacional e depois cada classe seguia em fila indiana do menor ao maior em direcao às suas respectivas classes.   Na hora do Recreio cada um pegava a sua lancheira de plástico, dentro havia uma garrafinha de plástico que a mae da gente enchia com suco de groselha e um lanchinho.  Muitas vezes comíamos uma sopa feita na cantina da escola..
Tínhamos cadernos brochura (sem espiral) com o Hino do Brasil na contracapa e cadernos de caligrafia para melhorar a letra e escrever “redondinho” como mandava a professora. Lembro-me que a professora Dona Regina (Pictu)  nao admitia “garranchos”, todo mundo tinha que escrever certinho e na linha – senao, de castigo,  tinha que repetir uma folha inteira com  palavra que tivesse sido mal escrita.  Saudade da Dona Regina, Dona Maroca, Dona Silvia, Dona Neli  e nao poderia deixar de mencionar a minha própria mae, Dona Eunice, que foi minha professora  - aliás de todos nós 5 irmaos  - do 4° ano primário.  Nao houve outra professora que soubesse ensinar tao bem o portugues como a minha mae!
Vestíamos uniforme de tergal azul marinho e blusa branca  e cada escola tinha o seu próprio emblema.     No ginásio Monsenhor Nora o uniforme era calca ou saia cinza e blusa branca. Foi a época em que apareceram as mini-saias,  que eram proibidas no ginasio, entao quando saíamos das aulas dobrávamos umas 3 vezes na cintura para encurtar a saia!    Tínhamos que mostrar uma carteirinha para entrar e nessa carteirinha eram carimbadas as nossas presencas. Se nao podíamos ir à  aula recebíamos o carimbo de ausente e os pais tinham que escrever um atestado de ausencia na parte de trás. Quantas vezes nós próprios falsificamos nossas ausencias, óbvio!  No final havia uma parte onde apareciam as notas  -  em azul se fossem positivas e em vermelho se fossem negativas.  Os pais tinham que assinar a cada bimestre.

Ah! Eu tinha uma caneta com 10 cores, se nao me engano era de metal e tinha um pininho que puxava a cor desejada para baixo, entao podia-se trocar o tempo todo.  Os cadernos eram sempre bem coloridos e os títulos dos trabalhos escolares eram sempre escritos em várias cores.   Os cadernos eram todos encapados com papel ou plástico.  Todo comeco de ano escolar era aquela “encapacao” de caderno e livro que nao terminava mais.
As provas das escolas vinham em cópias tiradas no Mimeógrafo  e por isso tinham um cheirinho de álcool  -  algumas até chegavam borradas nas maos da gente.
Eu tive aulas de Estudos Sociais, Ciencia e Saúde, Filosofia, Educacao Moral e Cívica e também de Artes.  Até aulas de trico eu tive,  mas nunca tive jeito pra isso e pedia para a minha amiga Fátima Davoli que me ajudasse. 
Lembrei-me daqueles estojos de madeira da Faber Castel que eram pesados e vinham com duas canetas (vermelha e azul), doze lápis de cor, uma régua, um compasso, outra régua cheia de furinhos pra gente fazer círculos de vários tamanhos,  borracha e nao sei mais o que. Nao era todo mundo que tinha um estojo assim, pois eram muito caros.  Também existiam aqueles estojos com botoes onde cada botao apertado abria um copartimento diferente. Lembrei-me de umas borrachas que nunca apagavam direito, entao sempre tinha quem lambia a parte azul para poder apagar e acabava fazendo o maior furo na folha do caderno. Ai de quem arrancasse alguma folha do caderno!  O professor tirava ponto.
Meninas, lembram-se dos perfumes Toque de Amor, Charisma e Sherazade da Avon?  Tinha um outro também que vinha num vidro em forma de noiva.
Nós íamos fazer “penteado” na cabeleireira  -  ficávamos  parecendo a Amy Winehouse com aqueles “ninhos” na cabeca.  Mas naquela época era lindo.  Depois apareceram os lacos  que colocávamos atrás para prender o cabelo. Tinha laco que era maior que a cabeca da gente!  E lembram-se que nao tínhamos vergonha de sair na rua de “bobs” na cabeca?  Algumas usavam uns lencos para cobrir os “bobs” e nao ficarem tao expostos... e desse jeito íamos ao supermercado, saíamos na rua e todo mundo achava aquilo bem normal.
Como é bom poder lembrar disso tudo.  Foram momentos que marcaram para sempre e é uma grande alegria poder desfrutar com voces essas lembrancas tao queridas.


(eu e meu pai no meu baile de debutantes em Mogi Mirim - S.P. -  nos anos 70 )
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Só dá nó!

(Rosângela Scheithauer)


Nunca conhecí mulher que gostasse de pregar botão. Na minha familia perder botão virou moda ultimamente. E já repararam que quando um botão desaparece a peça de roupa torna-se inútil? Claro, porque nunca mais se consegue um botão igualzinho e acaba acontecendo que a pobre da mulher precisa comprar novos botões e pregá-los um a um.

No Brasil sempre há uma costureira aqui ou acolá que faz este „simples“ trabalho e o problema está resolvido, mas aqui na Austria? Primeiro, é dificílimo achar uma costureira e segundo se eu tiver a sorte de achá-la, cobrará os olhos da cara para pregar os benditos botões e o resultado da história é o serviço sempre acabar sobrando para mim.

Na verdade, nem ponho a culpa no marido ou filho quando fecham as camisas indisciplinadamente ao ponto de perder seus botões. A culpa é dessas benditas máquinas das fábricas de confecções, pois não os pregam adequadamente  e os deixam só pendurados na peça. Essas máquinas pura e simplesmente dão umas três voltas de linha ao redor do botão e depois deixam um fiozionho solto, causa de toda a problemática! Falta aquele nózinho final e essencial, aquele dado com os dedos e para isso, infelizmente, ainda não há tecnologia. Pôxa! Estamos na era dos mais modernos aparelhos eletrônicos, computadores, celulares discando apenas com o som da voz e nenhuma máquina decente pregando botões?

Estou começando a achar que entre as fábricas de camisas e as de botões deve haver um complô para que uma ajude a outra. Analisem bem, ou a mulher sai para comprar uma nova camisa ou para comprar novos botões e uma das fábricas sempre acaba lucrando nessa jogada.

Estas empresas devem dar graças a Deus as mulheres ainda não terem armado a „guerra dos botões“. Pelo menos não ainda... estou seriamente pensando em iniciá-la! Vai dar o maior nó!



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Dedico a poesia abaixo a todos os meus amigos.

MEUS AMIGOS
(Rosangela Scheithauer)

Queria compor um poema 
Que descrevesse meus 
amigos 
Que falasse das suas 
virtudes 
E também das suas 
manias 
Impossível falar de cada 
um 
Pois todos me são 
importantes 
Em alguns encontro um 
pai 
Em outros um irmão 
Alguns me fazem rir 
Outros enxugam as 
lágrimas 
Quando me sinto só e 
abandonada 
Há aqueles que não falam 
muito 
E escrevem mais 
Há os que escrevem 
pouco 
Mas falam muito 
Meus amigos são pessoas 
Que tem no peito um 
coração 
Que pulsa a cada contato 
A cada encontro 
A cada troca de palavras 
Se Deus criou o amigo 
Prá ser amigo de verdade 
Então Ele foi generoso 
E os deu todos para mim! 

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A poesia abaixo é dedicada à mulher mais linda deste mundo:

A MINHA MÃE
Rosângela Scheithauer
À pessoa que me deu a vida,
ensinou-me a falar, caminhar, rezar
ficou ao meu lado
em tempos de tempestade
orou por mim
em momentos de dificuldade
seguiu meus passos, riu meus risos
chorou meus prantos
sentiu na pele a dor da separação
rogou a Jesus pela minha proteção
nunca me deixou desamparada
foi sempre o anjo da minha estrada
à minha querida e amada MAE
o meu mais profundo agradecimento
por tudo o que aprendi a ser
pelo amor que nunca deixei de ter
por sempre estar ao meu lado
nas alegrias e nas tristezas
nas certezas e incertezas
obrigada por ser essa mãe maravilhosa
que Deus me deu como uma estrela
a mais bela, mais pura, a mais singela.
Mamãe, quero através desse poema
Deixar-lhe registrado o meu amor
Infinito como o céu
Puro como a flor
Eterno como o Senhor!




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CHOCOLATE E AMOR
(Rosângela Scheithauer)


Tudo o que eu quero
É um quarto em algum lugar
Distante do frio da noite,
com uma cadeira enorme.
Isso seria agradável!
Muito chocolate para eu comer
E muito carvão na lareira.
Tão agradável, sentada,
absolutamente quieta.
Rosto quente,
mãos quentes,
pés quentes.
Eu nunca me moveria.
Até que a primavera
Arrastasse sobre a soleira da janela,
a cabeça de alguém
meigo e ardente,
que tomasse conta de mim
e que descansasse sobre o meu joelho.
Ficaríamos sentados,
absolutamente quietos.
Isso seria agradável!
Gerânios vermelhos na janela,
muito chocolate
e muito amor.



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... E ficou


nao sei se foi destino
se foi rapaz ou menino
nao sei se foi paixao
se foi com lábio ou mao
nao sei se foi saudade
se foi mentira ou verdade
nao sei se foi loucura
se foi tristeza ou docura
nao sei o que foi
se foi pra ser
ou esquecer
só sei que foi bom
e ficou!




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Felicidade
(R. Scheithauer)


Fiquei um bom tempo assim ,
olhando o céu pela janela
na área de serviço
enquando te aguardava do banho ,
sentindo o perfume do sabonete
saindo com o vapor pela porta
Agora retorno à sala ,
te vejo me esperar no sofá .
Beijo teus cabelos ainda molhados ,
escondendo ver o que acho em teus olhos.
Teu abraco é a certeza
de que a felicidade existe. 




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Foi o que faltou
(R.Scheithauer)

uma vida que desconheço
um coração nao compreendido
um singular pensamento
e um composto sentimento.
eis a vida que escolhi
em um tempo que nao vi
num sonho ou pesadelo
foi-se a vida.foi-se a morte.
restou o pouco que há em mim
entre tantos brilhos
e poucos giros
tantos amores
e poucos valores
o que faltou foi o perfume
foi a chama
foi o selo da paixao





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Folhas que o vento levou
(R.Scheithauer)



Aqui sozinha penso em voce
Olho lá fora
O chao coberto de folhas
Amarelas, vermelhas
A chuva fraca cai lentamente
Nesta manha nublada e cinza
Busco algo que mude
As cores do meu dia
Deixei de me apaixonar
Minha alma ficou cheia
De ilusoes inventadas
Deixei-me entorpecer
Por carinhos e palavras
Tombei
Tropecei
Caí
Quanta falta voce faz
Seu corpo
Seu cheiro
Do qual me tornei dependente
Escrevo para aquele
Que sempre chamei de „Darling“
Que tanto já me fez sofrer
E ainda faz
Por ter me deixado aqui
E ido embora para sempre
Da janela só vejo as folhas
O vento as leva
Como levou voce
Só deixou a brisa
E este último lamento
Em forma de palavras



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Me abrace


 Quando me encontrar
Triste e solitária
E meus olhos refletirem
A tristeza de minh`alma
Quando o ceú se confundir
Com os podres da terra
E em minha mente
Não encontrar equilibrio
Entrarei em seu corpo
Tomarei suas mãos
E pedirei que me abrace
Assim bem apertado
E conforte um coração
Nem sempre compreendido 



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Para ele....   P.

Paralelas

(R. Scheithauer)

Homen distante, inacessível, estes meu lábios
Guardam o  calor dos beijos nunca dados
Apenas selados com carinhos e palavras
Seus olhos penetram os meus como um raio solar
E sinto o trânsito de sua claridade inundar minh`alma
Só você, homem distante, desejo aprisionado em mim
Pode trazer de volta o sorriso há tanto esmorecido
E unir pedaços de um quebra-cabeças ignorado
Esperarei como se espera os que voltam da guerra
Contando as horas com sonos repetidos
Vendo o sangue pulsar em minhas veias
Esperarei onde os esquecidos dormem seus sonhos
Onde a vida é caminho, cruz e fronteira
Onde o mar não separa continentes
E o sol nunca se põe no horizonte
Permanecerei todos os dias e todas as noites
Contarei as horas que marco com olhos de esperança
E verei passar a vida mesmo consciente que ela
É a  única capaz de unir estradas
Ou morrer sem nunca encontrar o caminho
Que nos colocou em linhas paralelas.



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O amor que peço

(R. Scheithauer)

 

Já lhe pedí antes
Mas peço outra vez
A palava que aromou
Sua boca de veludo
A festa de amor
Que ainda não tivemos
E os soluços desenfreados
Em frente à janela jogados
Não peço o amor
Dos marinheiros
Que amam e partem
Com um beijo no portão
Deixam uma promessa
E se vão em pressa
Em cada porto uma mulher
Peço somente o amor
Que se reparte
Em beijos, leito e pão
Amor que pode ser eterno
Que não pede perdão
Que requer libertar-se
Amor profundo
sem fronteiras
Ou barreiras
Sem idade ou vaidade
Amor de verdade




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Meu Brasil



Quando penso no Brasil
Vejo um céu azul cintilante
Um sol que brilha ardente
Um verde-amarelo contagiante
Um horizonte sem fim
Afundado na linha do mar
Vejo campos e cidades
Capitais com marginais
Províncias com bambuzais
Vejo um céu todo estrelado
Com as três Marias no telhado
Vejo música e poesia
Tanta luz e alegria
Vejo-me menina
Brincando na esquina
Vejo um Brasil todo mudado
Inteiramente ultrapassado
Um Brasil que não mais vejo
Só sinto.
Sinto muito.



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Dedico a voce,  P.

Íntimo

Este íntimo secreto
que no silêncio é concreto,
este sofrer por  dentro
num esgotamento completo,
este ser  sem disfarçe,
virgem de mal e de bem,
este dar-se e entregar-se,
descobrir-se e desflorar-se,
é só nosso
e de mais ninguém.




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UM POUCO DE SAUDADE
(Rosangela Scheithauer)



Seu olhar
Não conta histórias
Não brota o fruto
nao planta a flor
Seu céu nao é azul
Nem é prateado
O que era antes
Já nao é mais
Não há nada a lembrar
Há tanto pra esquecer
E aprender a perdoar
Nao é piedade
nem é verdade
É só
E tao somente
Um pouco de saudade




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TALVEZ

(Rosângela Scheithauer)

 

 

Coisas da primavera

Tíbia tarde de março
Que o álito de abril cobre e leva;
Estou só num pátio silencioso
Buscando uma ilusão cândida e velha
Alguma sombra sob o muro branco
Alguma lembrança no peito da pedra.

Busco sinal de amor na fonte que dorme
Ou no ar que vaga em forma de espuma
E nesse ambiente da tarde flutua
Aroma de ausência, cruel e estonteante
Que diz à alma esperançosa: Nunca
E ao coração espedaçado: Talvez!



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Só isso

(Rosângela Scheithauer)

 

 

 

Não possuo liberdades

De donas-de-casa pós-feudais
Não preciso esperar você me procurar
Não sou objeto
Tenho vontades e desejos
E em determinados momentos não os tenho
Há que ser sábio e conhecer a diferença
Sou exigente
Comigo e com meu corpo
Peço apenas sensibilidade
Educação e delicadeza
E senso de oportunidade
Sem maldade
Sem traição
É tudo o que também proporciono
Não permito assedios
Ou inconveniências
Quero machismo
Um homem especial
Que me ame
Só isso




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SEGUE TEU CAMINHO
(Rosangela Scheithauer)

Abre o teu olhar para o espaço
Toca a terra
alça os braços para o ceu
Ouve o vento das tuas emoçoes
descobre teu nome na pedra
Escreve com as cores do arco-íris
Deixa vestígios de tua alma
Depois  segue teu caminho
Na aventura que sempre buscaste
Na praia ainda nao encontrada
Na estrela ainda sem nome
Segue em frente
Mas onde fores
Leva-me contigo




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